Por Andréa Bruxellas
Com a eliminação do Brasil da Copa do Mundo Feminina da FIFA, é chegada a hora de se fazer uma análise das perdas e ganhos trazidos pela competição. Há de se ressaltar que já há algum tempo, a seleção brasileira feminina de futebol vem suscitando boas reflexões a respeito das relações existentes entre homens, mulheres e os corpos que ocupam o gramado, esse espaço antes tido como masculino e que se tornou um campo de lutas bem demarcadas.
Embora a jogadora Marta, que se despediu nesta quarta (2) das Copas do Mundo, tenha ressaltado na véspera da partida contra a Jamaica que eliminou o Brasil, o quanto de espaço as mulheres jornalistas conquistaram no meio esportivo nos últimos anos, vale destacar também o papel que a mídia teve na construção da imagem dessas jogadoras e de todas as praticantes de futebol, que foram significadas e ressignificadas através de discursos, olhares e imagens.
No noticiário esportivo, principalmente no impresso, percebe-se pelas pesquisas acadêmicas já publicadas que o futebol feminino só ganhou destaque nas páginas esportivas a partir do final da década de 90. Em 1999, O Estado de S. Paulo publicou uma matéria de página inteira discorrendo sobre os problemas do futebol no Brasil. No Rio de Janeiro, no mesmo ano, O Fluminense, publicava a primeira reportagem sobre futebol feminino destacando a ascensão do esporte, num momento em que não havia sequer disputa de campeonatos no Rio. Com o título, “Meninas do Brasil são temidas”, o Jornal do Brasil engrandecia e, ao mesmo tempo, no corpo da matéria, diminuía o futebol apresentado pelo selecionado brasileiro.
Esse título, no entanto, analisado 24 anos depois, reflete um pouco do temor que existia por trás do crescimento das mulheres no esporte de uma maneira geral. Afinal, o futebol tinha e tem um poderoso apelo de contextualizar uma história de resistência das mulheres. Resistência em relação às inúmeras interdições sofridas pelo corpo feminino que até hoje são replicadas em grupos de WhatsApp e em piadas de humoristas que insistem em representar a mulher entranhada aos valores da família, do recato e da honra, desvelando a sociedade patriarcal que ainda privilegia homens no tocante à condução da vida política, econômica, social e moral.
Nos gramados e no jornalismo, com a participação cada vez maior de árbitras, repórteres mulheres, narradoras e comentaristas, já se constata muita evolução. No entanto, a participação de mulheres na gestão esportiva, em setores de organização e de direção, ainda é inexpressiva.
Assim, independentemente da tristeza que envolveu a eliminação prematura do Brasil da Copa do Mundo, é importante lembrar que o papel central do futebol feminino na mudança de representações da mulher, continua. Assim como o cinema, a literatura e a arte em geral, o futebol também tem o poder de ampliar o olhar de todos para o leque de possibilidades de ser e estar no mundo que as mulheres têm.
O papel político do futebol, vai além do partidário. Tem a missão de unir o cidadão e a organização da cidade. Vem mostrar que as pessoas precisam muito mais do que Pão e Circo. Precisam de esporte, de cultura e de uma educação que mostre aos indivíduos, inclusive aos atletas, que não são meras marionetes a serviço do consumo, mas sim, criadores de um espetáculo próprio, acima de qualquer competição ou estatística, que tem beleza, fair-play e paixão pelo esporte, por si próprio, pelo outro e pelo coletivo.
Vivas às mulheres! Vivas ao futebol feminino!!
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