Por Cláudio Nogueira
As medalhas de prata da seleção feminina de futebol e de bronze da seleção feminina de vôlei encerraram no último sábado (10) a participação da delegação brasileira nos Jogos Olímpicos de Paris-2024. Uma metáfora interessante para comparar as metas traçadas com os resultados obtidos, é imaginar um copo da sua bebida favorita com o líquido pela metade. Como vê esse copo? Meio cheio ou meio vazio?
Para quem acompanha ou tenta acompanhar o esporte brasileiro um pouco mais de perto é inevitável que surjam questões como essa. Ao todo foram 20 medalhas, sendo três de ouro, sete de prata e dez de bronze. A meta inicial era de 22 premiações, para superar o recorde de 21 de Tóquio-2020 (sete ouros, seis pratas e oito bronzes). Verdade que essa marca quase foi igualada. Então, pode-se dizer que o copo ficou meio cheio. Mas, quando se pensa nos três ouros, é possível ver que o resultado ficou bem abaixo dos sete obtidos tanto no Rio-2016 quanto em Tóquio-2020. Além disso, desde Pequim-2008 e de Londres-2012, o Time Brasil (nome oficial da delegação) não tinha tão poucos primeiros lugares olímpicos. Neste caso, então, o copo ficou meio vazio, já que o número de ouros é o critério mais usado para a classificação no quadro de medalhas.
Levando-se em conta a classificação nesse quadro, a melhor de todas se deu também na capital japonesa, em 2021 (os Jogos de 2020 foram adiados por causa do coronavírus), com o 12o lugar geral. Na Rio-2016, por exemplo, havia sido o 13o. Em Paris-2024, o Brasil encerrou a participação na 20a posição. Como não conseguiu estar novamente entre os top-15, o copo parece meio vazio.
O "feminiverso", porém, traz motivos para sorrir e ter esperanças. Pela primeira vez, na delegação de 276 desportistas, havia 153 mulheres, ou seja 55% do total. E as mulheres não decepcionaram. Somente atletas femininas foram campeãs: Beatriz Souza, no judô; Rebeca Andrade, na ginástica artística; e Ana Patrícia/ Duda, no vôlei de praia. E dentre os 20 pódios olímpicos, 12 foram do feminino, sete do masculino e uma mista, a do judô por equipes. Para que se tenha uma ideia, em Tóquio-2020, houve nove pódios femininos, a melhor marca, até então. Em Paris-2024, foi a primeira vez que as mulheres tiveram resultados melhores que os dos homens. E isso já deixa o copo do Brasil meio cheio, porque a evolução feminina parece constante.
No que diz respeito ao número de classificações entre os oito melhores em suas modalidades nos Jogos Olímpicos, em Tóquio foram 51, mas em Paris, houve uma evolução para 58. Outra variável utilizada pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) em suas análises é o número de esportes ou modalidades no qual a delegação medalhou. É um parâmetro para se saber que o país não "depende" de poucas modalidades, mas tem um potencial esportivo diversificado. Assim, em Tóquio, o Brasil subiu ao pódio em 13 modalidades, uma a mais do que na Rio-2016. Agora, porém, foram 11 esportes com medalhas verde-amarelas.
Uma possível explicação para os resultados brasileiros em Paris talvez tenha relação com o fato de que o ciclo entre os Jogos de Tóquio, realizados em 2021, e os de agora, foi mais curto, de três anos, ao contrário dos outros ciclos normais em que os atletas têm quatro anos de preparação. Nesse intervalo menor, vários atletas tiveram lesões e demoraram a se recuperar totalmente. Noutros casos, quando o intervalo entre as Olimpíadas é o normal, de quatro anos, atletas jovens têm o tempo ideal para amadurecer e eventualmente substituir os veteranos, que se "aposentam" de suas seleções. Agora, essa maturação pode ter ocorrido às pressas, de certa forma.
Várias outras comparações poderiam ser feitas, deixando em alguns casos o copo mais vazio ou mais cheio. Mas, ao mesmo tempo em que quase igualou o recorde de medalhas, o Brasil ficou devendo noutros aspectos. Já olhando para a frente, em 2028, em Los Angeles, esta é uma encruzilhada. O Brasil vai mesmo se tornar um top 15, embora ainda distante das maiores potências, como EUA, China, Austrália, Japão, França, Grã-Bretanha? Ou continuará brilhando apenas uma vez ou outra, em um ou outro esporte? E o copo? Continuará meio cheio ou meio vazio?
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