Por Andréa Bruxellas
O etarismo no esporte afeta tanto homens quanto mulheres, mas é particularmente significativo para as atletas femininas. À medida que a conscientização sobre esse problema cresce, mais esforços são feitos para garantir que mulheres de todas as idades tenham a oportunidade de competir e se destacar nos esportes, desafiando estereótipos e preconceitos. Essa semana, um grupo de mulheres com mais de 70 anos embarcou para Polinésia para disputar o Campeonato Mundial de Va’a Maratona 2023 na categoria 70+.
Além de combaterem com muita resistência física um estereótipo comum de que à medida que as mulheres envelhecem sua capacidade atlética diminui, elas também mostraram que têm determinação de sobra para vencer outros desafios.
Equipe 70+ no embarque para representar o Brasil em Samoa
Foto: Divulgação
Elas garantiram a classificação para o Mundial após a conquista dos títulos Brasileiro e Pan-americano, só que não tinham dinheiro para arcar com os custos da viagem e da competição. Nem assim desanimaram. Com uma vaquinha online conseguiram arrecadar R$120 mil e, já no próximo sábado (12), participam da cerimônia de abertura do Mundial de Va’ a, em Samoa. Na terça-feira (15), as seis atletas da equipe entram na canoa para representar o Brasil e a Região dos Lagos, já que todas moram em Cabo Frio e Araruama, no Rio de Janeiro.
Quando começaram a remar não podiam imaginar que chegariam tão longe. A maioria começou a praticar a canoa havaiana individualmente, apenas como hobby. Foi graças ao empenho da treinadora Cláudia Sá, que tem um histórico invejável de títulos no currículo, que a equipe começou a treinar junta e a conquistar títulos.
“Foi uma paixão e Claudia Sá foi responsável pela minha trajetória. Competi no Mundial do Taiti em 2018 de V1. E conseguimos a vaga para o Mundial do Havaí em 2020, que não ocorreu por causa da pandemia. Nos últimos 5 anos, participei de diversas competições no Estadual e Brasileiro de V1 e V6, com várias vitórias. Treino todos os dias e amo estar no mar”, disse Julieta Vianna, de 70 anos, uma das integrantes do grupo.
Maria de Lourdes Accioly, de 73 anos, outra representante brasileira na Polinésia, conta que a criação da categoria 70+ aumentou sua longevidade no esporte.
“ Já estava tendo que competir com remadoras muito mais jovens, o que dificultava enormemente devido ao peso da idade. Importante dizer que após a formação da equipe, logo vieram os títulos em todos os campeonatos que participamos. Com isso tive um estímulo maior para o treino, com a visão de que a idade não nos define”, disse.
Apesar dos avanços, ainda existem muitos desafios a serem superados para garantir a igualdade de oportunidades para mulheres de todas as idades nos esportes. Mas a personal trainer Ana Catarina Kurban, que já enfrentou desafios enormes ao fazer travessias de 450 a 500 km na Polinésia Francesa e em British Columbia, no Canadá, algumas delas exibidas no programa Quatro Remos, do Canal OFF, acredita que essas conquistas virão com o tempo. E destaca que para além da competição, a prática da canoa havaiana traz inúmeros benefícios para a saúde física e mental.
Aninha Kurban em uma das longas travessias
Mais sobre a Canoa Havaiana
A origem da canoa havaiana remonta pelo menos 3 mil anos, no triângulo polinésio (Taiti, Havaí e Nova Zelândia), quando era usada como meio de transporte de pessoas e alimentos. As canoas fazem parte da cultura havaiana desde seus primórdios e até hoje são conhecidas por diferentes nomes. No Taiti é Va’a, no Havaí, Wa’a, e, na Nova Zelândia, Waka. No Brasil, seguindo a definição da Federação Internacional de Va’a (FIV), o nome oficial do esporte é Va’a.
Por aqui, o esporte polinésio só chegou em 2000, na cidade de Santos, em São Paulo, quando o atleta de canoagem Flávio Paiva importou a primeira canoa dos Estados Unidos e ajudou a difundir a modalidade para outras cidades brasileiras.
O empresário Francisco Lucas começou a praticar o esporte nessa época, na Praia Vermelha, na Urca, e nunca mais largou. Competiu na categoria 40+, 50+ e 60+. No ano passado participou do Campeonato Mundial de Va’a Sprint, no Lago Dorney, na cidade de Windsor, na Inglaterra, mesmo local em que o remo foi disputado nas Olimpíadas de 2012. Acostumado a treinar com canoas havaianas, que têm o casco chato, ele estranhou um pouco as canoas taitianas oferecidas pelos organizadores da competição.
Francisco Lucas no Mundial de Windsor
“As canoas taitianas têm um casco em V, são mais oceânicas e, embora rasguem mais o mar, tornam as manobras mais difíceis porque fazem menos curvas e exigem uma técnica apurada que os brasileiros ainda precisam desenvolver”, explicou.
Mas, apesar de toda dificuldade da competição, o Brasil conquistou medalhas de prata e bronze em várias provas desse Mundial. E, graças ao empenho dos dirigentes, donos de clubes, fabricantes e apoiadores da modalidade, a canoa havaiana conquista a cada dia mais espaço no país. Em 2025, o Brasil será sede do Mundial de Maratona. E, até lá, os canoístas brasileiros, homens e mulheres das mais variadas idades, seguem remando pelo mundo e conquistando o respeito internacional.
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