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A incrível história da inclusão de mulheres nos Jogos Olímpicos

Atualizado: 31 de mai.

Por Ana Miragaya


Esse ano, Paris comemora o centenário (1924-2024) de cidade-sede dos Jogos Olímpicos, mas poucas pessoas sabem que Paris sediou os Jogos da 2ª Olimpíada, em 1900, justamente quando aconteceram as primeiras competições femininas da história dos Jogos Olímpicos da era moderna. O ano de 2024 marca então a 3ª vez que Paris sedia os Jogos. E foi justamente nessa edição que as esportistas iniciaram sua participação nos Jogos Olímpicos. Como isso ocorreu? Mas elas não eram proibidas de competir?

 

Quando os Jogos Olímpicos se iniciaram em Atenas, em 1896, não houve participação feminina nas competições. Devido às condições sociais e culturais na Europa naquela época, pouquíssimas mulheres praticavam esportes. É importante lembrar que o esporte moderno foi desenvolvido a partir da década de 1830 na Inglaterra, em colégios para meninos. As meninas não praticavam esportes. Quando frequentavam escolas, eram preparadas  para serem mães e donas de casa. Como não podiam trabalhar fora, eram financeiramente dependentes dos pais, irmãos e maridos. A exceção ficava com as mulheres pertencentes às  classes menos abastadas, como operárias e empregadas domésticas. Naturalmente, com as regras sociais vigentes, os homens que organizaram os Jogos em Atenas jamais pensariam em incluir mulheres.

 

Embora o fundador do Comitê Olímpico Internacional (COI) e restaurador dos Jogos Olímpicos, o barão francês Pierre de Coubertin (1863-1937), fosse contrário à participação de mulheres em competições atléticas, conforme vários documentos históricos demonstram, não existe nenhum documento oficial do COI que faça alusão à proibição da participação feminina nos Jogos. O que ocorreu foi justamente reflexo da sociedade da época, que reservava às mulheres somente a função de ter filhos e serem do lar. A maior parte delas não tinha acesso à escola e muito menos podiam votar.

 

As poucas mulheres que praticavam esportes ao final do século XIX pertenciam às classes mais abastadas, tendo empregadas domésticas que faziam os serviços de casa e babás. Dessa forma, essas socialites tinham mais tempo livre e se dedicavam a jogar tênis, golfe e a velejar com os maridos. Os equipamentos para essas práticas, que só podiam ser realizadas em clubes,  tinham um alto custo. Além disso,  os clubes também cobravam mensalidades elevadas. Isso sem falar na teia social, que levava em consideração os sobrenomes para ingresso em seu quadro social.

Foi justamente nesse contexto que ocorreu a primeira participação de mulheres esportistas nos Jogos Olímpicos de 1900. Paris, naquele ano, também foi sede da Exposição Universal (Exposition Universelle), evento bastante relevante no cenário econômico e industrial, com o objetivo de comemorar as conquistas do século XIX e estimular o desenvolvimento no século XX. Organizada pelo governo francês, essa enorme feira ocorreu entre 14 de abril e 12 de novembro  e contou com a participação de 40 países. O Brasil não participou da Exposição Universal de 1900.

 

Devido à falta de entendimento político entre o presidente do COI, Pierre de Coubertin (1896-1925), que havia proposto que o COI organizasse os Jogos, o presidente da Exposição Universal, Alfred Picard (1844-1913), e a União das Sociedades Francesas de Esportes Atléticos (Union des Sociétés Françaises de Sports Athlétiques - USFSA), os Jogos  Olímpicos ambicionados por Pierre de Coubertin para acontecerem em sua cidade natal acabaram sendo organizados por um comitê formado pela USFSA para esse propósito. Com isso o COI não teve controle das competições que ocorreram ao longo dos 7 meses desse longo evento. O COI não pôde selecionar atletas e muito menos supervisionar as competições.

 

O comitê formado pela USFSA, sob a presidência de Daniel Merillon (1852-1925), assumiu as Competições Internacionais de Exercício Físico e Esportes (Concours International des Exercices Physiques et de Sport).  A expressão Jogos Olímpicos foi usada muito poucas vezes. A imprensa se referia às competições como “Campeonatos Internacionais”, “Jogos Internacionais”, “Campeonatos de Paris”, “Campeonatos Mundiais” e “Grande Prêmio da Exposição de Paris”.

 

Daniel Merillon delegou a responsabilidade de organizar algumas das competições, como tênis e golfe, às instituições encarregadas de convidar os esportistas e também aos clubes parisienses. Todos estavam convidados, inclusive as socialites que jogavam tênis e golfe nos clubes de Paris. Algumas vieram de outros países, como Estados Unidos, Inglaterra e Itália. Como elas estavam habituadas a participar de torneios, aceitaram o convite e se inscreveram para participar das Competições Internacionais de Exercício Físico e Esportes. Não houve qualquer manifestação contrária à participação de nenhuma esportista.

 

A inclusão das mulheres foi muito simples e natural. Essa participação inicial garantiu a entrada de mulheres atletas nos Jogos Olímpicos subsequentes (1904, 1906 - Jogos Olímpicos Intercalares -  e 1908) sem a intervenção do COI, que somente passou a organizar os Jogos em 1912, em Estocolmo, na Suécia.

 

Curioso notar que muitos dos que participaram das Competições Internacionais de Exercício Físico e Esportes não sabiam que estavam participando dos Jogos Olímpicos, como foi o caso da americana Margaret Abbott, medalha de ouro no golfe, que morreu sem saber que havia competido nos Jogos Olímpicos.






De acordo com os dados oficiais do COI, 22 mulheres tiveram seus nomes inscritos na história dos Jogos Olímpicos: vela (1), tênis (6), golfe (10), hipismo (2) e croquet (3). São elas:

 

VELA:  Hélène Barby (Estados Unidos-Suíça). Competiu com seu marido a bordo do veleiro Lerina, chegando em 1º lugar, vencendo o 1º torneio por equipe.

 

TÊNIS: Charlotte Cooper (Inglaterra), Marion Jones (Estados Unidos), Georgina Jones (Estados Unidos, irmã de Marion) Hélène Prévost (França), Marguerite Fourier (França) e  Hedwiga Rosenbaumova (Boêmia), no tênis. Charlotte Cooper foi a 1ª  medalhista de ouro de esporte individual.

 

GOLFE:  Margaret Abbott (Estados Unidos), Pauline Whittier (Estados Unidos); Myra Abigail Pratt (Estados Unidos), Jeanne Froment-Meuriœ (França), Ellen Ridgway (França), Madeleine Fournier-Sarlovèze (França), Mary Abbott (Estados Unidos, mãe de Margaret), Baronese Lucile de Fain (França), Rose Gelbert (França) e Marie Brun (França). Margaret Abbott foi a vencedora da competição de golfe.

 

HIPISMO:  Elvira Guerra (Itália) e Jane Moulin (França), no hipismo.

 

CROQUET: Madame Filleaul Brohy (França), Marie Ohnier (França) and Madame Déprès (França). Única vez que esse esporte foi incluído nos Jogos.

 

Além dessas, duas mulheres não tiveram sua participação reconhecida pelo COI, mas seus nomes aparecem em várias fontes que relatam participação nos Jogos Mundiais de 1900. São elas:

 

Mme. Maison (França) e Mme. Lemaire (França), no balonismo. Ambas competiram com seus respectivos maridos. O balonismo foi depois removido da lista de esportes dos Jogos Olímpicos.

 

Fonte: MIRAGAYA, A. The process of Inclusion of Women in the Olymic Games. Tese de doutorado, Universidade Gama Filho, 2006.

 

 

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